"Onde houver um cineasta, de qualquer idade ou de qualquer procedência,
pronto a pôr seu cinema e sua profissão a serviço das causas importantes de seu tempo,
aí haverá um germe do Cinema Novo."
Glauber Rocha | 1965


quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Primeiro Filme, Satisfação

. . .
MINHA primeira equipe.

Mais de uma DÉCADA na estrada.
CENTENAS de vídeos, filmes realizados.
Enfim...
...UM projeto pessoal
. . .

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

22 de Dezembro

...
Terça-feira, 6h15

Dia da PARTIDA. As 5h00 da manhã todos na produtora no Pacaembú para retirada do equipamento. 5h10 van carregada e carro na rua rumo a ITAPECIRICA DA SERRA, extremo sul de São Paulo. Precisamente JARDIM JACIRA. Sem trânsito, 1 hora de "viagem".

Nesse último ROTEIRO que mexi resolvi ser ousado e "ESCREVI" duas sequências: a de ABERTURA e a de ENCERRAMENTO.
Cena simples. Seo Francisco anda pela casa já vazia fechando as portas e janelas e sai com a mala... Num plano sequência. Só conseguimos metade da cena. A minha "teimosia" em ensaiar o movimento, coreografar câmera e personagem e ainda repetir 3 vezes as duas cenas custaram os 45 minutos que tínhamos...
Na verdade, como todo documentário, provavelmente eu já tivesse uma abertura e encerramento dentre as 6 horas 15 minutos de material, mas quis arriscar, quis inserir um mise-en-scène no filme. NÃO DEU.

7h05, em frente a casa de Seo Francisco

- Ei, são 7h00, vocês precisam ir. O Francisco vai perder o ônibus!
Me repreendeu o amigo-vizinho.

Já sei, já sei e nem olhei a cara do sujeito. Saco!

Todos na van e fomos dar uma CARONA para o personagem ao metrô. Uma hora e meia depois, metrô São Judas.

Já do outro lado do bloqueio, Francisco e um amigo descem a escada rolante com DUAS MALAS e DUAS CAIXAS de papelão. Todos da equipe olham.
Silêncio.

Bom, cafezinho para animar e toca de novo para ITAPECIRICA, extremo sul de São Paulo. Bem SUL MEEESMO...

Tinha perdido minha abertura e não queria arriscar uma busca no bruto. Fomos fazer mais algumas cenas. Uma panzinha aqui, uma subjetiva ali e tudo terminado.
Na saída do bairro uma paradinha na primeira BIROSCA no caminho para comprar ÁGUA. Todos descem...

- Ué, todo mundo desceu?! Vamos tomar aqui então. Amigo, duas garrafas pra gente e cinco copos.
- Só se for agora! Solta o rapaz do balcão.

Rodrigo-fotógrafo, eu, Daniel-logger, Pinta-áudio, Anderson-motora
e LUIZÃO-o-rapaz-do-balcão


Ah, era um boteco. Numa comunidade. Não pegava bem tomar água...
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

21 de Dezembro

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Segunda-feira, 8h30

2 colheres (sopa) de açúcar;
2 colheres (sopa) de pó de café
;
1/2 litro de água
.

Ponha a água para aquecer, adicione o açúcar e mexa bem.
Ao levantar fervura, retire do fogo e derrame sobre o pó de café devidamente colocado em um coador de pano. Pronto, um café (típico) interiorano para saborear.

Essa foi a primeira cena de hoje: O café do dia-a-dia de Seo Francisco.

- De manhã só tomo um pretinho.

O dia foi mais tranquilo. Diferente do primeiro, esse foi PLANEJADO, podemos discutir ontem as "ações" que iriam acontecer.

Além do café, a "caixinha" do velho empregador; o PÊ-EFE no almoço; a despedida dos amigos; a arrumação da mala e por fim, o corte de cabelo. Sim, por que se eu chegar assim lá no Ceará, minha mulher me manda de volta!

Corrido, cansativo, mas bastante PRODUTIVO.

Hoje tivemos uma outra imagem de Seo Francisco, meio conflituosa... Alegre por ir, mas triste por todos que deixa...

Hoje, de novo, tentamos correr atrás da VIDA. Mas como é difícil acompanhá-la... Ela muda e nos surpreende a cada instante, a cada MB "impresso" no cartão. HITCHCOCK certa vez soltou um pensamanto que se enquadra perfeitamente nessa sensação - "Nos FILMES de cinema o DIRETOR é Deus; nos documentários DEUS é o diretor."

É... AMANHÃ tem a partida. Sentirei saudades.
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domingo, 20 de dezembro de 2009

20 de Dezembro

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Domingo, 12h30

- Alô, Seo Francisco?!... Isso, estamos a caminho... Acho que lá pela UMA estamos por ai.
- Veio alguém para o almoço? Nossa, que bacana...

Ao chegar a casa, fomos recebidos com um BELO ALMOÇO: Arroz fresquinho, bife de panela, "maionese" e saladinha de tomate.

- Vámo comê?!
- Obrigado Francisco acabamos de tomar um lanche...

PRIMEIRO DIA de gravação. FRANCISCO DAS CHAGAS feliz pelas visitas (o sobrinho com sua mulher e dois amigos), excitado com a equipe, tudo correndo bem.

Roteiro? Não usei. Como esperado, tudo mudou.
O planejado caiu e a vida tomou sua direção.
Seo Francisco se acostumou com a CÂMERA, ficou a vontade com a EQUIPE e foi nos guiando.

O almoço, uma conversa, alguns depoimentos e o fim do dia chegou.

- Tenho missa hoje as OITO, cêis vão?
- Acompanhamos até a porta da igreja e de lá seguimos para fazer mais umas imagens.

Esse foi o primeiro dia. Mas... voltando a hora do almoço...
- Ahhh... Não vai experimentar nem um pouquinho?
- Tá booom Francisco... Só um pouquinho!

O homem cozinha bem.
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sábado, 19 de dezembro de 2009

O Roteiro

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Quando ESCREVI o projeto, escrevi um ROTEIRO também, ou melhor, um PRÉ-ROTEIRO, o roteiro especifíco para documentários, onde se desenvolve uma linha narrativa com possíveis fatos e prováveis diálogos.

Quando conheci Seo Francisco, fiz uma PRIMEIRA adaptação.

Nessa semana tive que MEXER DE NOVO. Amigos e parentes que dariam entrevistas não foram encontrados. Na verdade... ainda estou mexendo, não tenho o "perfil" de quem vamos encontrar para compor os depoimentos.

Mas tudo bem, depois da gravação ainda tem o ROTEIRO FINAL.

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sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Tchau SP...


Encontrei-me com SEO FRANCISCO essa semana.
Acertamos horários, combinamos alguns outros depoentes... Fechamos tudo para a primeira diária, no DOMINGO.
Mas Seo Francisco estava um pouco triste, com o olhar baixo...

COLOCADOR DE CARPETES, ela havia ido receber seu último pagamento.
Um dinheirinho que viria em boa hora: compra da MALA, de LEMBRANCINHAS, algum para o CAMINHO (54 horas num Itapemirim convencional) e principalmente para passar o FIM DE ANO com a FAMÍLIA.

Um desses fatos fora de hora atravessou o caminho do HOMEM.
Na última TERÇA saiu cedo para receber o DINHEIRO e já resolver várias coisas.

Antes das 11hoo já estava com a grana na mão.
Antes das 11h00 já estava sem a grana...

Enquanto esperava a condução em um ponto de ônibus ali, próximo onde havia recebido, assistiu a um assalto. Uma moça distraída teve seu celular roubado.
Eram dois homens, eles o viram também...

- PASSA a GRANA aí TIO!

35 anos de São Paulo. Nunca havia sido assaltado.

Que BELA LEMBRANÇA vai levar desta terra.

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domingo, 13 de dezembro de 2009

Porque Documentário?

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DOCUMENTÁRIO. O início de tudo...
Lá atrás em 1890 e pouco, quando os franceses Lumière "inventaram o cinema", esse foi o formato inicial. Os PRIMEIROS FILMES não passavam de cenas do dia-a-dia filmadas em um único plano. Só anos mais tarde os americanos* desenvolveriam a ficção (* uma das versões).


Nesses meus anos de fã, estudante e OBSERVADOR da ARTE, vi muita coisa... boa, ruim, ótima... ESCOLAS de cinema, grandes DIRETORES, MOVIMENTOS de vanguarda tudo isso se cristalizando em algum lugar aqui na minha cabeça e criando um "modelo de cinema".
O meu MODELO.
Um parâmetro, que aliado a meu gosto pop-cool-brega-cínico se tornou uma ferramenta de crítica BASTANTE PESSOAL (alguns amigos dariam uma grande risada aqui).

Mas nesses tempos de VHS, DVD e ROLOS de película nunca gostei de documentários. Até um belo dia...

...em 1999 quando assisti a um filme que havia LIDO sobre. Um documentário, mas de tema interessante: a RELAÇÃO das pessoas de um MORRO do RJ com a RELIGIÃO.
Era SANTO FORTE, de um cara chamado EDUARDO COUTINHO.











Vi o filme de boca aberta.

Sai ENCANTADO da sala... Era o PRIMEIRO documentário que assistia em um cinema e era absolutamente incrível! SIM, era possível fazer um documentário sem ser chato, arrastado, cansativo (pelo menos na minha opinião). SÓ nesse dia entendi que havia N possibilidades de se contar uma HISTÓRIA e que aquela, até então negada por mim, era a que mais me atraia...

Nesse DIA ao sair do velho ESPAÇO UNIBANCO DE CINEMA eu tinha, de certa forma, mudado meu caminho.
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domingo, 22 de novembro de 2009

Seo Francisco

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Olha... a menos que Seo Francisco seja o sucessor do Zé Dumont (como melhor ator "regional"), encontrei o PERSONAGEM para o DOC...

Cearense, 50 anos, casado, pai de família e que já fez o que tinha que fazer em São Paulo.

- Já mandei minha família no início do ano e quero ir até dia 15...
- Volta pra cá?
- Só se for n'outra encarnação!


Acho que agora vai.

Francisco das Chagas, o Seo Francisco

O Candidato


Depois de alguns "QUERO ir", "estou PENSANDO em ir", "VOU no ano que vem", encontrei alguém que já mandou a família e "está arrumando as coisas"...

Será que é ele?

Bom, marquei um café p/ discutir melhor... Ver se ñ estou enganado.

Estou indo agora, ao encontro dele... Seo Francisco.
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terça-feira, 27 de outubro de 2009

A Luta (Continua...)


Não imaginei que seria tão difícil encontrar o personagem do DOC.
- Buscas e entrevistas na TIETE;
- Alerta em COMUNIDADES POPULARES;
- Emails e avisos no MUNDO VIRTUAL;
- Amigos e parentes "de olho" POR AÍ...
Ufa!

Descobri que já ñ sou mais produtor...
...preciso de um. Produtor de casting.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O Cartaz



O Folheto poderia virar CARTAZ...
Mas as pessoas que me interessam o leriam???


segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ué, O REGRESSO é um Blog ou um Filme???


Porque o documentário não sai?!

Pois é, tenho uma cirurgia a fazer que está adiando o filme...

Os contatos e o tal FOLHETO estão congelados.

Mas assim que recuperado da "intervenção", toco o bonde (mesmo porque o prazo de entrega do curta é esse ano!).

Enquanto isso eu e o MÉQUI enchemos a Linguiça, digo, o Blog...

MÉQUI, meu secretário

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O Filme



Quanto tempo será que tem uma HISTÓRIA?...


Minutos. Entre malas e despedidas, amigos e parentes ajudarão a contar a história desse migrante nos 15 minutos desse filme.

Horas. Eu, um cinegrafista e um operador de áudio  acompanharemos o personagem em suas últimas 48 horas na capital.

Anos. A  chegada, a vida nova, O REGRESSO. Tudo que aconteceu com "esse viajante" nos anos de cidade grande.


Mas... Quantas histórias caberão nesse tempo?

sábado, 22 de agosto de 2009

O Projeto



Em 2005, em meio as buscas de freelas resolvi escrever alguns PROJETOS e ver no que dava. Deu certo. O PROGRAMA PETROBRAS CULTURAL selecionou uma de minhas histórias para ser incentivada.

De lá para cá, algumas burocracias. Primeiro com a documentação da LEI ROUANET. Depois, com o contrato da PETROBRAS.
No inicio de 2009 consegui a liberação do prêmio.

Para meu primeiro curta-documentário, escolhi não ir "longe de meu quintal". Escolhi falar sobre algo próximo, algo que conhecia bem. MIGRANTES NORDESTINOS.























JACARACI, centro-sul da Bahia.

Jacaraci é uma pequena cidade do agreste baiano. Meus pais, tios, avós, todos nasceram por lá e já experimentaram as 20 horas de estrada de uma cidade a outra.
Em minha infância e adolescência fui muito a RODOVIÁRIA. Ora para pegar alguém, ora para despachar.

Na última década o número de migrantes que volta para sua terra ultrapassou o número do que vem para cá.
Alguns TIOS, cansados e desiludidos com a vida na metrópole também decidiram pelo retorno.

Usando esse "êxodo urbano" como ponto de partida, decidi BUSCAR um desses viajantes e contar sua história.

A história da volta, a história dO REGRESSO.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O Folheto




Fiz um rascunho do folheto.

Hummm... não, ficou muito formal.
Pensei noutro. Não, muito grande.
Mais um! Hummm... acho que não expliquei direito...

Não imaginei que seria difícil chamar alguém para uma conversa. Bom, depois disso parei nesse:


Hoje, muitos MIGRANTES NORDESTINOS estão voltando à sua terra natal.

SE VOCÊ É um desses, OU CONHECE ALGUÉM que vai embora, ajude-nos a contar essa história num filme.

Os motivos da vinda, as razões da volta, as dificuldades da cidade grande...

9199.0237 ou 2306.7848 ou

oregresso2009@gmail.com



Pensando bem, talvez não seja uma boa idéia. Os migrantes são muito desconfiados...

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Café com Pão de Queijo



Em minha visita a RODOVIÁRIA DO TIETÊ, fiquei pensando em como chegar a meu PERSONAGEM. Senti que um simples approach afugentaria as pessoas além de ser bastante improdutivo também.

Que fazer então?

Comprei um café, uma (farta) porção de pãezinhos de queijo e sentei-me no meio de passageiros na área de embarque. Comecei a divagar...

Lembrei do processo de um outro documentário - JOGO DE CENA do COUTINHO, que colocou um anúncio naquelas revistinhas que circulam junto com o jornal de domingo e conseguiu algumas dezenas de pessoas interessadas em contar a própria história. Hummmm... seria isso?

Acho que não. Creio que não teria o mesmo sucesso do MESTRE.
Não imagino esse personagem com o perfil de quem gosta de um "jornalzinho de domingo". Pena, a idéia era ótima.

Mas... e se eu... hummm... será?!

...ao invés de ler em um jornal, as pessoas poderiam ler em um... FOLHETO!
Sim, seria só deixá-los nos lugares certos e bingo!

Próximo passo: o FOLHETO.


sexta-feira, 31 de julho de 2009

Não Mudou Muito



Hoje fui a RODOVIÁRIA DO TIETÊ. 

Precisava me inteirar das novidades do lugar. Não mudou muito... caixas de papelão e sacas de farinha continuam embalando as roupas e aparelhos de som de quem volta. 

Mas, botei reparo em algo que nunca havia me dado conta: há DUAS ÁREAS DE EMBARQUE, sendo uma só para as cidades nordestinas...  Seria um APARTHEID social??? Ou um simples detalhe logístico?

Bom, comecei o CURTA.